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    Asma felina: as células-tronco mesenquimais são a solução?

    A asma felina é um processo respiratório que pode afetar gatos com qualquer idade e raça, mas mais frequente em gatos entre os 2 e 8 anos, sendo que algumas raças (como os birmaneses e os siameses) aparentam possuir uma maior incidência. É um síndrome que consiste no estreitamento das vias respiratórias, e podemos encontrá-lo também com outras designações, como bronquite eosinofílica, bronquite alérgica ou EPOC.

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    Fisiopatologia

    O estreitamento das vias aéreas dá-se devido à presença de diferentes mecanismos, resultando todos na diminuição do diâmetro da luz brônquica:

    • Hipertrofia do músculo liso da parede bronquial
    • Inflamação e edema da mucosa
    • Formação de tampões mucosos (secreção mucosa excessiva)
    • Descamação celular e exsudados inflamatórios intraluminares que permanecem dentro dos brônquios
    • Broncoconstrição exagerada e duradoura
    • Hiperplasia das glândulas mucosas e submucosas.

    Os episódios podem surgir enquanto o gato se encontra em total repouso ou enquanto faz exercício: de repente, o gato pára os seus movimentos e começa a arquejar, abrindo a boca enquanto o seu peito e abdómen se movimentam intensamente. Nos gatos com bronquite crónica, existe a possibilidade de danos no epitélio bronquial e de fibrose das vias respiratórias. Parece existir um componente alérgico ou inflamatório, e por isso os sintomas poderão ser agravados de forma aguda devido ao stress e à presença de partículas de aerossóis como perfumes, fumo ou pó em suspensão. As areias de gato muito poeirentas geralmente desencadeiam os episódios.  

    Células-tronco

    As células-tronco mesenquimais são células originárias da mesoderme (tecido embrionário) com capacidade de se diferenciarem em vários tipos de células, como os osteócitos, condrócitos, adipócitos... Nos últimos anos, a investigação no âmbito das terapias com células-tronco em animais sofreu grandes avanços, e ainda que seja uma área que ainda se encontra em desenvolvimento, atualmente conhece-se a sua utilidade na medicina regenerativa ou nos processos auto-imunes.  

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    Do ponto de vista terapêutico, as CTM (células-tronco mesenquimais) são interessantes devido à sua capacidade de proliferação, anti-inflamatória e modeladora da resposta imunitária. Uma das conclusões alcançadas com as referidas investigações é a de que a diferenciação que estas células sofrem pode ser induzida ao modificarmos os componentes que se adicionam ao meio, o que se apresenta como especialmente útil. O procedimento mais utilizado na atualidade para o seu isolamento e cultura consiste na extração de tecido adiposo. Após serem isoladas, as CTM podem infiltrar-se diretamente na zona da lesão ou serem administradas por via sistémica, já que possuem a capacidade de migrar até ao local da lesão. Na espécie felina, as investigações sobre este tema encontram-se um pouco atrasadas, mas hoje em dia já se aplicam com sucesso no tratamento da insuficiência renal crónica.  

    Investigação da viabilidade da terapia com células-tronco para a asma felina

    Realizou-se um estudo-piloto sobre a viabilidade e a eficácia das células-tronco mesenquimais extraídas a partir do tecido adiposo num modelo experimental de asma felina. O estudo consistiu em induzir um episódio de asma alérgica agudo e administrar 5 infusões intravenosas de CTM a quatro animais, ou de solução salina (placebo) a dois animais. Durante nove meses, os animais foram monitorizados, comparando diversos parâmetros em ambos os casos: a eosinofilia das vias respiratórias, a mecânica pulmonar, estudos de tomografia computorizada do tórax e várias experiências imunológicas. Nos primeiros tempos não se observaram diferenças consideráveis entre os dois grupos mas, ao nono mês, a percentagem de eosinófilos em todos os gatos tratados com CTM alcançou os níveis normais de referência. 

    Em todos os felinos observou-se uma diminuição da hiper-reatividade do aparelho respiratório, quando comparada com a do grupo de gatos tratados com placebo por volta do dia 133 do estudo. De igual forma, o espessamento da parede bronquial reduziu-se substancialmente no mês 9. Perante estes resultados, concluiu-se que a terapia com CTM pode possuir um efeito retardado na redução da inflamação das vias respiratórias, o que justifica a realização de investigações adicionais sobre o tema.

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