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    Corticoides para cães: Efeitos secundários por uso continuado

    Os corticoides para cães são utilizados frequentemente para tratar diferentes patologias. Analisamos o seu mecanismo de ação e os principais efeitos secundários causados por um uso continuado.

    Os corticoides são fármacos lipofílicos que penetram na célula por difusão passiva. Quando se ligam ao seu recetor citoplasmático, sofrem dimerização e passam para o núcleo, onde se ligam a sequências específicas de bases, atuando sobre o ADN e facilitando a síntese de ARN mensageiro. Como resultado, aumenta ou diminui a produção das proteínas correspondentes.

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    Estas alterações são responsáveis pelas principais ações farmacológicas dos corticoides, desde os seus efeitos anti-inflamatórios até à sua ação imunossupressora e antialérgica, tal como descrito num artigo de Martín Vaquero P.1. No entanto, algumas dessas alterações também produzem efeitos secundários indesejados, sobretudo nos tratamentos prolongados.

    Principais efeitos secundários do uso continuado de corticoides

    • Imunossupressão. Os corticoides inibem o processamento do antigénio por parte do macrófago, diminuem a síntese de algumas proteínas que poderiam atuar como anticorpos e reduzem o número de linfócitos T, deprimindo o sistema linfoide. Consequentemente, têm um grande efeito imunossupressor que, embora possa ser benéfico para tratar as patologias imunomediadas, também pode ser prejudicial, já que predispõe o animal a sofrer diferentes tipos de infeções. Essa é a razão pela qual, em alguns casos, os corticoides são acompanhados de antibióticos, para prevenir o aparecimento de infeções oportunistas.
    • Dificuldades gastrointestinais. Um dos efeitos secundários mais comuns dos corticoides em cães, sobretudo quando são utilizados em doses muito elevadas ou se mantêm a longo prazo, são os vómitos e a diarreia. Estes medicamentos também provocam um aumento da produção de pepsina e ácido clorídrico, o que, juntamente com a sua ação inibidora sobre a síntese de prostaglandinas, pode causar ulceração ou até perfuração gastrointestinal, tal como comprovado por um estudo realizado por Neiger R. et al.2. É uma das principais razões pelas quais o seu uso é acompanhado de protetores gástricos.

    Atraso na cicatrização de feridas e no crescimento dos cachorros. Os corticoides bloqueiam o anabolismo proteico, ou seja, a síntese de proteínas a partir de precursores, o que pode causar atrofia muscular, diminuição da matriz óssea e inibição do crescimento longitudinal dos ossos. Estes mecanismos explicam tanto o atraso no crescimento dos animais jovens como as dificuldades na cicatrização das feridas. Por isso, o seu uso não é recomendado após uma cirurgia ou quando existe uma ferida aberta.

    Diabetes. Os corticoides têm um efeito antagonista da insulina, aumentam a gliconeogénese e inibem a utilização periférica da glicose, aumentando o depósito de glicogénio a nível hepático. Este mecanismo pode gerar uma hiperglicemia ou glicosúria, o que pode fazer com que alguns animais desenvolvam diabetes mellitus, sobretudo os que já se encontrem num estado pré-diabético.

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    Problemas cardiovasculares. O uso de corticosteroides foi associado ao surgimento de diferentes problemas cardíacos graves. Uma revisão realizada por Erstad B. L.3 em humanos revelou que doses elevadas de corticoides intravenosos estavam relacionadas com broncoespasmo, arritmias e enfartes do miocárdio. Em cães, uma investigação realizada por Schellenberg S. et al.4 indicou que o uso continuado de hidrocortisona aumentava a pressão arterial, o que “poderia causar uma remodelação vascular periférica irreversível seguida de uma maior rigidez da parede e uma maior resistência vascular”, segundo os investigadores.

    Alterações comportamentais. Na medicina humana, os efeitos secundários ao nível do comportamento nos doentes tratados com corticoides são vastamente conhecidos. Um estudo realizado por Notari L. et .al.5 revelou resultados semelhantes em cães. Os animais tratados com corticoides eram significativamente menos brincalhões, mostravam-se mais nervosos e inquietos, mais temerosos, menos seguros e tendiam a evitar pessoas ou situações estranhas. Além disso, tinham mais tendência para ladrar e comportavam-se de forma mais agressiva na presença de alimentos ou quando os incomodavam.

    Outros efeitos secundários associados aos corticoides incluem um aumento das enzimas hepáticas como a albumina. Também podem causar eritrocitose e anemias em caso de insuficiência adrenal. Além disso, os tratamentos prolongados poderão induzir Síndrome de Cushing por causa do aumento de cortisol.

    Por último, outro problema a considerar é que os corticoides podem interferir no diagnóstico de doenças, sobretudo nas de índole neurológica, já que afetam os resultados de exames destinados a avaliar o líquido cefalorraquidiano e de exames de ressonância magnética.

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    Bibliografia
    1. Martín, P. et. Al. (2016) El uso de corticosteroides en el tratamiento de enfermedades neurológicas en pequeños animales. IM Veterinaria; 5: 66-69.
    2. Neiger, R. et. Al. (2000) Gastric Mucosal Lesions in Dogs with Acute Intervertebral Disc Disease: Characterization and Effects of Omeprazole or Misoprostol. Journal of Veterinary Medicine; 14(1): 33-36.
    3. Erstad, B. L. (1989) Severe Cardiovascular Adverse Effects in Association with Acute, High-Dose Corticosteroid Administration. Annals of Pharmacotherapy; 23(12): 1019-1023.
    4. Schellenberg, S. et. Al. (2008) The effects of hydrocortisone on systemic arterial blood pressure and urinary protein excretion in dogs. J Vet Intern Med; 22(2): 273-281.
    5. Notari, L. et. Al. (2015) Behavioural changes in dogs treated with corticosteroids. Physiol Behav; 151: 609-616.