VT_Tematica_Medicina interna_detail.jpg VT_Tematica_Medicina interna_detail.jpg
  • Tempo de leitura: 5 mins

    Miosite e polimiosite nos cães. Breve revisão

    A miosite no cão é uma patologia que afeta o músculo e que pode ter diversas etiologias. Existem miosites infeciosas, traumáticas e inflamatórias, sendo estas últimas normalmente secundárias a uma patologia autoimune. A seguir realizaremos uma analise das principais etiologias de miosite autoimune no cão.

    Introdução

    As miosites imunomediadas no cão são um conjunto de patologias que se caracterizam pela apresentação de uma resposta imunitária contra o tecido muscular que condiciona a infiltração de células inflamatórias nos músculos com a correspondente perda de fibras musculares e debilidade. No cão, existem duas patologias imunomediadas causantes da miosite: A poliomiosite (e dermatomiosite quando existem lesões cutâneas características) e a miosite dos músculos mastigadores.

    [Osteoartrite Canina] → Descarregue gratuitamente o guia sobre esta doença  articular degenerativa e descubra as ferramentas de prevenção e tratamento

    Miosite dos músculos mastigadores

    A miosite dos músculos mastigadores, também chamada miosite eosinofílica é uma patologia inflamatória que afeta os músculos mastigadores causando uma atrofia dos mesmos. A sua etiologia autoimune surge porque alguns estudos detetaram anticorpos anti músculo no soro dos cães afetados, os quais identificam especificamente antigénios nas fibras M2 dos músculos mastigadores o que explica a seletividade da afetação muscular. Além do nível histológico, apresentam infiltrado inflamatório e resposta correta aos imunossupressores. Dentro do infiltrado inflamatório são observados eosinófilos, o que explica o segundo nome desta doença.

    Existem duas formas de apresentação: Uma forma aguda e uma crónica. Na forma aguda predominam os sintomas inflamatórios, dor e febre, enquanto que na forma crónica predomina a sintomatologia devida à atrofia muscular. Apesar das formas descritas, a maioria dos cães vão à consulta por um problema de trismo ou perda de massa muscular na nível bocal. Dado que a sintomatologia localiza-se exclusivamente a nível da boca, devemos conhecer também o conjunto de patologia a esse nível e quando se encontra indicada a sua derivação a um especialista. O tratamento da mesma são imunossupressores em doses elevadas (corticoides) até o controlo do processo, pudendo retirar-se progressivamente se houver uma evolução correta. O prognóstico é geralmente favorável, embora muitos cães requeriam um tratamento a largo prazo.

    Guia GRATUITO → Guia de fisiopatologia gastrointestinal do cão e do gato parte  2.

    Poliomiosite nos cães

    A poliomiosite é um tipo de miopatia inflamatória autoimune que se apresenta como uma forma mais generalizada de afetação muscular, ao contrário da miosite dos músculos mastigadores. Principalmente afeta os músculos das extremidades e foi descrita uma predisposição da mesma em adultos de raças grandes 1. Além disso, foi descrita associada a outras doenças como podem ser doenças neoplásicas, outras doenças autoimunes (como o lúpus eritematoso sistémico) ou inclusive como um fenómeno para-imunitário em relação a infeções (secundária a infeções por toxoplasmose, vírus...). Tipicamente a sintomatologia da poliomiosite evidencia-se durante o exercício.

    Os cães afetados apresentam debilidade durante a realização de movimentos pudendo apresentar outros sintomas associados se houver afetação orgânica específica como por exemplo a regurgitação por megaesófago. Igual em que a miosite dos músculos mastigadores, a poliomiosite pode apresentar-se numa forma mais aguda, sendo mais frequente a febre e afetação geral do cão ou uma apresentação crónica com atrofia muscular predominante. O tratamento é similar à miosite dos músculos mastigadores sendo que o tratamento de eleição os corticoides em doses imunossupressoras com boa resposta aos mesmos, mas de igual forma à patologia anterior, muitos cães devem manter o tratamento a longo prazo para evitar recaídas. Em casos de resposta negativa, podem iniciar outros imunossupressores (azatioprina...).

    Conclusão

    As miopatias imunomediadas no cão são doenças que afetam o músculo esquelético produzindo debilidade cujo o mecanismo patogénico é imunológico, sendo que até ao momento ainda não se descobriu ao certo o agente causador. Dado que afeta o músculo, a atrofia do mesmo pode produzir mudanças estéticas e mudanças no volume muscular, pelo que tanto para o seguimento do cão como para detetar a patologia, avaliar o estado corporal do cão é crucial. O tratamento as mesmas é com imunossupressores apresentando uma boa resposta, embora não devamos esquecer a atenção integral do cão, então teremos que prestar atenção à dieta, ao exercício físico... apresentando na maioria dos casos, uma correta recuperação funcional.

    Descarregue GRATUITAMENTE → Clinical Tool: Abordagem multimodal  no tratamento das doenças do trato urinário inferior felino. 

    1. Massey J, Rothwell S, Rusbridge C, Tauro A, Addicott D, Chinoy H et al. Association of an MHC Class II Haplotype with Increased Risk of Polymyositis in Hungarian Vizsla Dogs. PLoS ONE. 2013;8(2):e56490.