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    Úlcera em cães

    A úlcera em cães manifesta-se adquirindo a forma de uma ou várias feridas na mucosidade do estômago, ou também na parte inicial do duodeno. As úlceras são mais frequentes nos cães do que nos gatos, sendo que no paciente canino nem sempre se observam sinais de hemorragia gastrointestinal. Os seus principais sintomas são vómitos, perda de peso e de apetite, anemia, debilidade, fezes com sangue, entre outros.

    Guia GRATUITO → Guia de fisiopatologia gastrointestinal do cão e do gato parte  2.

    Ulceras nos cães: etiologia

    Existem diversas causas que originam úlceras gástricas no cão e no gato. Entre elas podemos encontrar:

    • Administração de fármacos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) e de corticosteroides, devido à sua ação anti-prostaglandínica que altera os mecanismos citoprotectores da mucosa gástrica. Esta é a mais frequente.
    • Doença neurológica medular e administração de corticosteroides devido a alterações na inervação autónoma gástrica, que acabam por originar isquemia e tendência para a formação de úlceras, que é agravada pelo tratamento com corticosteroides. Muito frequente nos cães.
    • Doenças renais agudas e crónicas, provocadas pelo efeito tóxico das toxinas urémicas, e diminuição da eliminação da gastrina pelos rins.
    • Doenças hepáticascrónicas e hipoadrenocorticismo.
    • Doenças que originam hiperacidez gástrica, tais como gastrinoma ou mastocitoses sistémicas, também originam úlceras gástricas. Neste último caso, dá-se um aumento de histamina produzida pelas células tumorais.
    • Em situações graves de choque e hipotensão acentuada, também poderão surgir úlceras gástricas.

      Pode descarregar o guia de fisiopatologia gastrointestinal do cão e do gato clicando aqui Os AINEs são fármacos que bloqueiam a ação enzimática da ciclo-oxigenase e, consequentemente, diminuem a síntese de prostaglandinas. Desta forma, exercem uma função anti-inflamatória, antipirética e analgésica. A principal toxicidade destes medicamentos manifesta-se a nível gastrointestinal e renal.  

      A nível gastrointestinal, as prostaglandinas são citoprotetoras, diminuindo a secreção ácida, estimulando a produção de bicarbonato e favorecendo a vasodilatação. Assim, a inibição da secreção de prostaglandinas gástricas irá favorecer o aparecimento de úlceras.

    • Relação entre a alimentação, a fibra e o aparecimento de úlceras devido a AINEs: tomando como ponto de partida o facto de nos humanos o uso de anti-inflamatórios não esteroides originar úlceras no intestino delgado, investigaram-se os efeitos que o tipo de alimentação e a quantidade de fibra presente na dieta (DF) possuem na formação de úlceras gastrointestinais induzidas pelos AINEs em cães. Em função dos resultados obtidos, quer o estado de alimentação (jejum ou ausência dele), como a DF insolúvel, como a celulose na dieta, todos eles desempenham um papel importante na formação de lesões intestinais induzidas pelos AINEs.

    Manifestações clínicas

    Estas costumam ser vómitos e hematémese, e o sangue poderá apresentar-se digerido ou cru, com a presença de coágulos nos casos mais graves. Menos frequentemente, também se observam fezes escuras com sangue, dor abdominal, anorexia parcial e emagrecimento. Nos casos graves, dá-se anemia regenerativa, desidratação, polidipsia e sinais de peritonite se existir perfuração.  

    Como podemos tratar as úlceras em cães?

    • Inicialmente, e no caso de sabermos quais são, podemos eliminar as causas que provocam a ulceração, e posteriormente aplicar um tratamento de suporte no caso de o estado geral do animal ser mau (fluidoterapia, transfusão, dieta).
    • Administrar antagonistas dos recetores H2, como a cimetidina 5-10 mg/kg 3 ou 4 vezes por dia, ou a famotidina a 0,5 mg/kg a cada 12 ou 24 h. Também se pode administrar ranitidina durante um mínimo de duas semanas. O sucralfato é um fármaco citoprotetor, que forma uma barreira protetora na úlcera e induz a síntese de prostaglandinas. Deverá ser administrado de forma isolada.
    • Mais recentemente, utilizaram-se os análogos das prostaglandinas no controlo das ulceras gastroduodenais, ou bem como protetores da mucosa nos casos em que AINEs foram administrados. O produto a ser usado é o misoprostol.
    • O tratamento ciurúrgico é reservado para casos graves e que resistem ao tratamento médico e farmacológico, bem como nos casos de perfuração e peritonite, com gastrectomia parcial.

      Se deseja mais informação sobre patologias gastrointestinais nos gatos clique aqui.

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