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Conjuntivite em gatos e herpesvírus felino: há alguma relação?

O herpesvírus felino é a causa mais frequente de doenças oculares no gato, sendo frequente a coinfeção com outros vírus. O diagnóstico realiza-se a partir de uma amostra por análise por PCR, não havendo correlação entre a quantidade de cópias do vírus e o grau de afeção conjuntival. Nesta publicação, apresentamos o estudo que analisou este tópico.

Medicina e cuidados

Conjuntivite em gatos: introdução

A conjuntivite em gatos é uma das doenças mais frequentes em que se produz uma inflamação da mucosa do olho, ou seja, da membrana que o reveste e do interior das pálpebras. As conjuntivites podem ser classificadas de acordo com a sua forma e a sua origem, como infeciosa, traumática ou alérgica, entre outras, sendo as de origem infeciosa altamente contagiosas por o vírus demorar até várias semanas a ser eliminado.

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De entre os sintomas mais frequentes, destaca-se uma irritação da conjuntiva com olho vermelho e lacrimejo, secreções oculares de aspeto esverdeado ou amarelado dependendo do grau de sobreinfeção, inflamação da terceira pálpebra, prurido e lesões causadas pelo coçar. Em casos mais avançados e graves, pode ocorrer opacidade corneana e alterações morfológicas visíveis na íris. 

Herpesvírus felino: é o único causador da conjuntivite em gatos?

As lesões da superfície ocular nos gatos são maioritariamente causadas pelo herpesvírus felino (FHV-1). Isto pode afetar gatos de todas as idades, embora o mais frequente seja provocar conjuntivite bilateral em cachorros e gatos jovens.

O herpesvírus felino causa dois tipos de sintomatologia (respiratória e ocular) de acordo com o local de replicação do vírus. Pode provocar uma úlcera corneana dendrítica, específica desta infeção nos gatos, que se manifesta com o corante rosa de bengala.

Apesar de o herpesvírus (FHV-1) ser a causa mais frequente de doenças oculares no gato, provocando conjuntivite bilateral, não se deve esquecer que o calicivírus felino (FCV) é também outra potencial causa. Além disso, foi demonstrado que FHV-1 e FCV virulentos podem estar presentes nas córneas de olhos felinos clinicamente normais, sendo a dexametasona um fator facilitador da disseminação viral.  (Aceda aqui ao artigo sobre o diagnóstico diferencial do FHV-1)

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O herpesvírus felino pode estabelecer-se, produzindo o estado de portador crónico, sobre o qual se produzem reativações associadas a diferentes fatores desencadeadores, como o stresse. Além disso, o tratamento com corticoides ou outros imunossupressores pode provocar a reativação do vírus, que permanece latente.

Para o seu diagnóstico, deve recolher-se amostras das secreções conjuntivais, nasais ou orais, sendo também útil a raspagem da córnea ou até a biópsia, realizando-se a análise por PCR.

Prevalência do herpesvírus felino

Em 2016 foi publicado um estudo2 que avaliou a prevalência do herpesvírus felino 1 (FHV-1), do calicivírus felino (FCV), do Chlamydophila felis (C. felis) e do Mycoplasma felis (M. felis) em gatos com doença do trato respiratório superior (DTRS), conjuntivite e/ou gengivoestomatite (GS) em comparação com gatos de controlo. As prevalências de  FHV-1, FCV, C. felis e M. felis foram, respetivamente, de 28,3%, 48,0%, 20,5% e 46,5% em gatos com DTRS; 24,2%, 43,6%, 19,5% e 38,3% em gatos com conjuntivite; e 15,6%, 58,4%, 9,1% e 37,7% em gatos com GS.  No grupo de controlo, a prevalência foi de 6,1%, 15,3%, 2,0% e 20,4%, respetivamente.

O número de cópias está relacionado com a presença da doença?

Um estudo publicado3 analisou a prevalência de ADN de herpesvírus felino 1 (FHV-1), Chlamydophila felis e Mycoplasma spp em gatos com e sem conjuntivite. Este estudo estabeleceu vários objetivos: 1) Determinar a prevalência dos microrganismos citados, e em concreto do herpesvírus felino 1; 2) Comparar os resultados da PCR convencional e de uma PCR fluorogénica em tempo real para a ampliação de ADN; e 3) Determinar se o número de cópias do mesmo estava relacionado com a conjuntivite em gatos.

Para isso, selecionaram uma amostra de conjuntiva de gatos saudáveis, gatos com conjuntivite e gatos com história de conjuntivite resolvida há menos de 3 meses. Detetaram uma prevalência de 6,7% de FHV-1, 3,2% de C. felis e 9,6% de Mycoplasma spp. Portanto, concluíram que o Mycoplasma spp era o organismo mais prevalente e que estaria associado à conjuntivite. Por outro lado, não conseguiram confirmar se há um maior número de cópias de ADN de FHV-1 em gatos com conjuntivite comparativamente às cópias obtidas de gatos sem conjuntivite.

Num estudo anterior3 que analisou amostras de gatos saudáveis e de gatos com doenças relacionadas com o herpesvírus felino (FHV-1), como a conjuntivite, a queratite estromal e o sequestro da córnea, detetou-se ADN de FHV-1 por PCR em 39% dos gatos com doença ocular e em apenas 6% dos controlos, com uma concordância significativa entre as duas técnicas de PCR utilizadas (PCR simples e nested-PCR). O ADN de FHV-1 foi detetado em 3/7 gatos com conjuntivite, 5/6 gatos com queratite epitelial, 3/11 gatos com queratite estromal e 3/12 gatos com sequestro da córnea, com uma associação significativa entre a presença do vírus e a queratite epitelial, mas não com a conjuntivite e as restantes afeções.

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