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    ICC em cães: esperança de vida após a hospitalização

    A insuficiência cardíaca em cães (ICC em cães) é um síndrome devido a uma alteração do coração que impede uma correta irrigação dos tecidos (sob esforço cardíaco).

    Etiologia da insuficiência cardíaca em cães

    Quando o esforço/dispêndio cardíaco baixa, os recetores vasculares que detectam o decréscimo da pressão arterial desencadeiam uma reação neuro-hormonal que dá lugar a um aumento da frequência cardíaca, retenção de sódio e água e a uma vasoconstrição periférica.

    Guia GRATUITO → Guia de fisiopatologia gastrointestinal do cão e do gato parte  2.

    Este mecanismo fisiológico é aperfeiçoado para as descidas de pressão devidas a uma diminuição da volemia (por exemplo, nas hemorragias). Mas na disfunção cardíaca, este mecanismo sobrecarrega o miocárdio e apresenta efeitos adversos que acarretam as mudanças morfológicas observadas nesta patologia: dilatação ou hipertrofia cardíaca (1).

    Etapas da insuficiência cardíaca

    Os pacientes caninos com insuficiência cardíaca podem ser classificados em quatro grupos, de acordo com os sintomas que apresentam (2):

    • Classificação funcional I: Total tolerância ao exercício. Não existem sinais de doença pulmonar nem sistémica, apenas se detecta a anomalia cardíaca.
    • Classificação funcional II: Tolerância parcial ao exercício, mas observa-se sintomatologia clínica em resposta ao esforço.
    • Classificação funcional III: Surge sintomatologia clínica após exercícios básicos, podendo ocorrer também após um período de descanso.
    • Classificação funcional IV: Os sinais clínicos estão presentes no repouso.

    O objetivo terapêutico será o de aliviar os sintomas da insuficiência cardíaca, melhorar a qualidade de vida do animal e a sua sobrevivência. Administrar um tratamento correto da forma mais precoce possível, assim que os sintomas forem detectados, assume especial importância para se atingirem esses objetivos.

    Tratamento da insuficiência cardíaca congestiva crónica

    A insuficiência cardíaca em cães requer uma redução do sal na dieta. Desta forma, o exercício físico será restringido para se evitar a sobrecarga cardíaca.

    Em relação ao tratamento médico, o mesmo será ajustado ao estádio clínico de cada paciente em particular, e será adequado de acordo com a sua evolução. De forma geral, serão usados:

    • constituem a primeira linha de ação para eliminar a retenção de líquidos, e edema e os derrames. À medida que este problema seja controlado, a dose será diminuída.
    • devido ao seu efeito anti-arritmia.
    • Inibidores da Enzima Transformadora de Angiotensina II (IETAs) para controlar a vasoconstrição.
    • Beta bloqueadores, cujo objetivo é o de impedir a ativação crónica do SNS. Apesar dos efeitos depressivos iniciais, o tratamento a longo prazo melhora os índices hemodinâmicos em repouso, a tolerância ao esforço físico e a classificação funcional.

    Neste artigo poderá encontrar mais informação sobre o tratamento da insuficiência cardíaca em cães.

    A alimentação do cão com insuficiência cardíaca

    A utilização de uma alimentação específica na insuficiência cardíaca em cães para melhorar a sua esperança de vida, merece destaque, bem como a adição de suplementos nutricionais.

    Uma alimentação adequada para cães com insuficiência cardíaca deve conter:

    • Restrição de sal. As dietas caseiras ou rações não especializadas não garantem um conteúdo de vitaminas e minerais adequado, pelo que é preferível uma fórmula específica.
    • Suplementação com ácidos gordos ómega 3 que irá prevenir o desenvolvimento de caquexia cardíaca.
    • Rico em micronutrientes e vitaminas como apoio nutricional para superar a doença.
    • Dieta hipocalórica caso o paciente canino apresente obesidade, já que uma massa corporal elevada aumenta a exigência hemodinâmica.

    dieta renal formulada pela Advance Veterinary Diets é indicada para o tratamento nutricional da insuficiência cardíaca congestiva nos cães.

    Abordagem terapêutica da insuficiência cardíaca aguda em cães e esperança de vida

    No estudo de Goutal e colaboradores (3), analisaram-se uma série de 145 cães e gatos tratados por insuficiência cardíaca aguda, entre os anos de 2007 e 2008. Destes pacientes, 90 eram cães, a maioria machos castrados com uma média de idade de 11,5 anos.

    Estes pacientes caninos chegaram aos hospitais num estado de insuficiência cardíaca aguda apresentando frequentemente uma elevada concentração de lactato no momento da sua admissão. Além disso, apresentaram também com uma elevada frequência hipernatremia (cerca de 25% dos casos), hipercalemia (20%) e elevadas concentrações de fosfatase alcalina (aproximadamente 35%).

    Os tratamentos utilizados durante este estudo variaram segundo o estado de cada paciente, mas incluíam na sua maioria:

    • Terapia de oxigénio, 24 horas em média. Foi necessária em 50% dos pacientes.
    • Principalmente a furosemida. 63 dos 90 cães receberam este tratamento nas primeiras 12 horas de hospitalização.
    •  (5 cães) ou abdominocentese (9 cães)

    Com os tratamentos adequados para cada caso, os cães que foram admitidos no serviço de urgências hospitalares com insuficiência cardíaca aguda tiveram uma elevada taxa de sobrevivência.

    74 dos 90 cães receberam finalmente alta. Daqueles que não receberam alta, 4 faleceram durante o internamento e outros 12 receberam eutanásia devido ao seu estado de saúde.

    1. TALAVERA, J.; FERNÁNDEZ, M.J. TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CONGESTIVA. CLIN. VET. PEQ. ANIM., 25 (1): 33-41, 2005
    2. NOVA ABORDAGEM TERAPÊUTICA DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA [INTERNET]. ARGOS, SETEMBRO 2002. DISPONÍVEL EM: HTTP://ARGOS.PORTALVETERINARIA.COM/NOTICIA/1380/ARTICULOS-ARCHIVO/NUEVO-ENFOQUE-TERAPEUTICO-DE-LA-INSUFICIENCIA-CARDIACA.HTML
    3. GOUTAL C.M. ET AL. EVALUATION OF ACUTE CONGESTIVE HEART FAILURE IN DOGS AND CATS: 145 CASES (2007-2008). VET EMERG CRIT CARE 2010; 20 (3): 330-337

     

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