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    Laparoscopia veterinária: biópsia do fígado e sua eficácia e segurança

    A laparoscopia é uma técnica cirúrgica que permite a observação direta dos órgãos abdominais por meio da inserção dos instrumentos laparoscópicos através de incisões mínimas na parede abdominal. Esta técnica permite, simultaneamente, a realização de vários procedimentos cirúrgicos, tal como a biópsia.
    Guia GRATUITO → Guia de fisiopatologia gastrointestinal do cão e do gato parte  2.

    A laparoscopia veterinária constitui um dos métodos atualmente utilizados para a obtenção da biópsia do fígado, devido aos seus resultados. Outras das técnicas utilizadas são a biópsia percutânea (guiada ou não por ecografia) e outros procedimentos como a biópsia punch ou a biópsia em guilhotina. A laparoscopia veterinária possibilita a obtenção de amostras mais satisfatórias: é possível visualizar a zona objeto de biópsia, o que permite a obtenção de várias amostras de tecido no mesmo procedimento. Além disso, quando comparada com outras técnicas conseguem-se amostras mais aprofundadas, o que reduz o risco de aparecimento de objetos de cápsula durante a análise histológica, facilitando consequentemente o diagnóstico. Também permite o controlo hemorrágico após a realização da biópsia. Por forma a avaliar a segurança e a eficácia da laparoscopia veterinária nos cães, monitorizaram-se os casos de 80 cães submetidos a uma biópsia ao fígado por meio de laparoscopia, entre 2004 e 2009, sendo que todos os animais possuíam suspeitas de doença hepática. Acompanharam-se os sinais e sintomas, as complicações intra e pós-operatórias e estudou-se a qualidade do diagnóstico histológico. Os dados foram obtidos a partir dos registos realizados pelos veterinários, e de entrevistas telefónicas efetuadas periodicamente aos donos dos animais.  

      A laparoscopia hepática constitui um procedimento seguro com taxas baixas de morbilidade e de mortalidade, a partir do qual se obtêm amostras suficientes para a realização do exame histológico: Dos 80 cães incluídos no estudo, 6 deles apresentaram complicações (3 animais necessitaram de cirurgia aberta, outros 3 apresentaram valores analíticos de anemia que exigiram transfusão sanguínea) e 76 (95%) sobreviveram à alta hospitalar. As baixas deveram-se a: 2 mortes provocadas por paragem cardiorrespiratória (posteriores à cirurgia, uma delas com anemia e consequente transfusão), 2 casos de eutanásia por petição do dono (devido a um prognóstico desfavorável e a uma máqualidade de vida). A hemorragia originada pela biópsia não costuma ser clinicamente relevante e na maioria dos casos soluciona-se com a aplicação de pressão direta ou de um agente hemostático. A cirurgia aberta teve de ser efetuada em 2 cães por forma a facilitar a extração de grandes massas neoplásicas, que podem ter estado relacionadas com uma trombocitopenia. A presença de coagulopatia nas análises pré-operatórias não foi significativamente associada com o surgimento de complicações, mas o prolongamento do TP (tempo de protrombina) influenciou a decisão de realizar transfusões a alguns dos cães. Todos os cães apresentavam anemia antes da realização da laparoscopia. É importante sublinhar que existiram discrepâncias de diagnóstico em 7 dos 49 cães que possuíam diversas análises histológicas a serem revistas. Uma amostra ideal de biópsia deverá ter um tamanho suficiente para permitir a realização do exame histológico (garantindo um número suficiente de portais tríades) e deverá ser obtida a partir de uma localização representativa da doença hepática subjacente, alcançando o tecido conectivo da mesma. É recomendável obter entre 2 e 3 amostras de diferentes lóbulos hepáticos, e que as amostras sejam recolhidas quer de zonas centrais como periféricas. De igual forma, será apropriado que sejam obtidas também a partir de tecido visivelmente saudável e de tecido anormal, por forma a descartar um processo mais disseminado do que o que possa parecer. 

    Referência

    1. Rothuizen J, Twedt DC. Liver biopsy techniques. Vet Clin North Am Small Anim Pract 2009; 39: 469–480.
    Guia GI Parte 2